​​BREVE HISTÓRIA DA FRATERNIDADE FILHOS DA LUZ

 

  Em uma noite de inverno no ano de 1743, em Palermo, Sicília, nasceu Giuseppe Balsamo, o homem que o mundo conheceria como Conde Alessandro di Cagliostro. Desde cedo, Cagliostro demonstrou um fascínio incomum por mistérios religiosos e sabedorias ancestrais. Aos dezesseis anos, em 1759, ele começou a explorar práticas alquímicas e rituais herméticos, atraindo a atenção de mestres dos círculos esotéricos locais. Entre eles, Raimondo di Sangro, conhecido  como o Príncipe de Sansevero, Grão Mestre da Ordem de Osíris, uma escola esotérica que foi fundamental para fojar e moldar a compreensão de Cagliostro sobre os mistérios egípcios e a religião cristã como uma ciência da alma.

 

  Luigi d’Aquino, primo e discípulo de Raimondo di Sangro, foi o elo entre Cagliostro e a Ordem de Osíris. Sob sua orientação, Cagliostro foi iniciado nos mistérios egípcios, aprendendo a ver a vida como um grande Livro da Natureza, cujas páginas estavam escritas nas estrelas e a história era um conto sobre as almas.

 

  Assim disse Cagliostro:  “Eu não sou de nenhuma época e de nenhum lugar, sou fora do tempo e do espaço, meu ser espiritual permanece vivendo a sua eterna existência e se eu imergir em meus pensamentos refazendo o curso dos anos da minha vida, se eu projetar o meu espírito em direção ao modo de viver distante dessas aparências, eu me torno naquilo que desejo. Participando conscientemente do Ser Absoluto, eu regulo as minhas ações de acordo com aquilo que de melhor me circunda. O meu nome é aquele da minha função, e eu o escolho, assim como eu escolho a minha função, por que eu sou um Livre Pensador. O meu país é aquele aonde momentaneamente coloco os meus passos. Coloquem a data de ontem, se quiserem ou puderem, aquela dos anos passados, para manter o orgulho ilusório de uma grandeza que talvez amanhã não será mais vossa”.

 

  Em 1770, durante uma viagem de retorno para Itália, vindo de Paris, Cagliostro teve uma visão. Ele viu uma fraternidade radiante, conhecida como Irmandade da Luz, formada por almas iluminadas, tanto no plano físico quanto espiritual, comprometidas em restaurar o conhecimento ancestral e a ciência moderna em uma unidade religiosa, fundindo ciência, religião e magia. Cagliostro foi convocado pela Ordem para estabelecer essa conexão na Terra.

 

  No solstício de inverno de 1771, em uma cerimônia secreta em Nápoles, Cagliostro assumiu o juramento de trazer ao mundo visível a luz invisível dessa “Antiga Tradição” e ensinar aos seus futuros discípulos a ciência da alma, com base nos princípios que aprendera com Raimondo di Sangro e os Mestres da Ordem de Osíris.

 

  Em 1775, Cagliostro, agora reconhecido como um grande mestre ocultista, recebeu uma missão específica dos Irmãos da Luz nos planos internos. Ele deveria preparar um sistema completo de educação ocultista que unificasse os mistérios egípcios e a sabedoria ocidental, para a futura Era de Aquário. Relutante diante do peso dessa tarefa, ele foi incentivado por mestres espirituais que lhe garantiram assistência no cumprimento dessa missão.

 

  Cagliostro viajou pela Europa, Oriente Médio e África, coletando os ensinamentos de várias tradições, consolidando um sistema que ficou conhecido como Arcanum Arcanorum, que refletia os caminhos da alquimia, astrologia e alta magia.

 

  Cagliostro fundou em 1778 a primeira manifestação física da Irmandade da Luz, em Veneza, onde começou a disseminar seus ensinamentos por meio de rituais e lições.

 

  Em 1784, após anos de trabalho incansável pela irmandade da luz, Cagliostro teve outra visão. Ele percebeu que a Irmandade da Luz precisava de um círculo externo, uma ordem que servisse de celeiro para recrutar dentre a miríade de profanos, alguns verdadeiros iniciados, aqueles que tivessem as qualidades requeridas para viverem os princípios dessa nova ordem, trazendo à humanidade a sabedoria dos planos espirituais.

 

  Assim, nasceu a chamada Maçonaria Egípcia ou Ordem de Misraim de Cagliostro, a qual teria interiormente, no círculo íntimo, a Fraternidade Filhos da Luz.

 

  Os Filhos da Luz, eleitos dentre os membros da Ordem de Misraim, eram indivíduos que enxergavam a vida como uma jornada de aprendizado contínuo. Inspirados e guiados pela intuição divina interior, dedicavam-se ao Bem-Estar Universal. Essa fraternidade adotou como lema: "Contribuir com o Máximo para o Bem-Estar Universal."

 

  O sistema que Cagliostro desenvolveu para os Filhos da Luz evoluiu dentro do seu Rito de Misraim, o qual se tornou numa estrutura ritualística maçônica que unia ciência maçônica e os mistérios espirituais. Este rito ensinava que o progresso espiritual vinha pela compreensão das Leis da Natureza, pela retidão dos atos e pela aplicação prática dos ensinamentos herméticos.

 

  Cagliostro escreveu extensivamente sobre a necessidade de abandonar dogmas e acreditar apenas no que pode ser conhecido e experimentado diretamente. Ele incentivava os Filhos da Luz a explorarem as conexões entre o cosmos, a alma humana e a evolução divina.

 

  Em 1795, ao sentir que sua forma física estava exausta após injustas perseguições e prisões, assim como ocorrera com Christo no passado, Cagliostro fez sua transição, deixando uma herança inestimável para o seu Rito de Misraim (Fraternidade Hermética Filhos da Luz). Ele instruiu seus discípulos a preservarem e expandirem o seu trabalho, adaptando-o às necessidades da Era de Aquário.

 

  Seus últimos escritos afirmavam que: "A luz não pode ser contida; ela se espalha. Assim, cada alma desperta é uma estrela em potencial, destinada a brilhar em direção ao infinito. Trabalhem, meus irmãos, para que a grande obra seja realizada!"

 

  Hoje, a Fraternidade Filhos da Luz continua a existir como uma guardiã do legado de Cagliostro. Ela reúne aqueles que buscam conhecer a ciência arcana, explorar a alma e viver em harmonia com o Grande Plano de Deus. Sua missão permanece a mesma: "contribuir ao máximo para o Bem-Estar Universal e iluminar o caminho da humanidade com a luz eterna da sabedoria esotérica".

​

  A continuidade da Fraternidade Filhos da Luz também encontra eco na Irmandade Hermética de Luxor, trazida à Inglaterra por Max Théon em 1884. Essa ordem perpetuou os mesmos ideais de iluminação espiritual e sabedoria esotérica delineados por Cagliostro, adaptando-os às necessidades de um novo tempo. Ambas as fraternidades representam um elo inquebrantável com a tradição egípcia antiga, renovando e disseminando sua luz para iluminar o caminho da humanidade.

​

​