O MITO DE ISIS
- Ir. Jules Boucher
- 6 de mar. de 2023
- 5 min de leitura
"Eu sou a grande Isis! Nenhum mortal levantou o véu que me encobre".

A Mãe Cósmica
Caros buscadores da verdade.
A magia superior, conforme estudada por nós no círculo interno da ordem, tem como um dos seus objetivos “a comunhão com o divino”, tanto hoje quanto no porvir.
Para que essa comum união seja obtida, ela não deve ser buscada apenas na doutrina (dogmas) ou especulações (devaneios intelectuais), mas na prática, realizando exercícios místicos que despertam as faculdades da alma, poderes que são de natureza espiritual e que não se dependem dos ritos, liturgias ou cerimônias.
Compreendam os teurgos reconheciam como divino aquele princípio Eterno, espiritualmente dinâmico. E é esse princípio espiritual eterno e dinâmico que dá origem na esfera intermediária os sublimes seres divinos, cuja consciência e poder são tão grandiosos, que estão aquém da compreensão humana, algo que lhes garantiu no passado e ainda hoje essa condição de serem chamados de deuses.
Essas forças cósmicas (ou deuses) foram estudadas pelos grandes sacerdotes egípcios com todo o rigor que o tema merece, sendo as suas virtudes divinas (poderes) cuidadosamente registradas sob a forma de mitos e lendas. Assim, cada um dos hieróglifos (pictogramas) possui um importante significado, que simultaneamente é profundo nas suas alusões e exteriormente eloquente na descrição das características divinas.
Dentro de todas as fórmulas e práticas religiosas, havia sempre, como ocorre com todo ensinamento oficial, uma doutrina exotérica (exterior), que era conveniente ao vulto, isto é, a todos aqueles que não queriam ir além das obrigações profanas, e um ensinamento esotérico (interior), disponível apenas aqueles que procuravam algo além do cotidiano, pois cansados do mundo eles almejavam a evolução e ascensão às esferas superiores da existência.
Nos ensinamentos públicos, os mitos e símbolos eram cobertos com véus que separavam e eclipsavam do profano os ensinamentos mais avançados. Já os ensinamentos do círculo interno, os adeptos eram admitidos além do véu, no interior do templo, onde se despoja a verdade e a realidade espiritual era apresentada sem roupagens.
Muitos autores falam dos iniciados como sendo pessoas superiores, que atingiram uma felicidade interdita ao vulgo, porém os seus termos são tão velados que não nos dirigem para uma investigação mais exata.
Assim, enquanto o vulgo permanecia no culto exterior, acreditando que a imagem idólatra correspondia a sua divindade cultuada (exemplo Sol era Deus e a Lua a Deusa), os verdadeiros iniciados, aqueles que já haviam conquistado o autodomínio (domínio de seu ego), eles penetravam os mistérios menores e maiores dessas ciências sagradas, perseverando na sua contínua e constante busca da verdade.
E foi nessa constante busca da verdade que nasceu entre os egípcios o culto à deusa Mãe Ísis.
Isis, que na cabala corresponde a Sefira Binah, era considerada fonte do universo, a primeira progênie das eras, governante do céu, do mar, e de todas as coisas existentes na Terra. Ela era venerada no mundo antigo como a Mãe superior e durante os Eons (eras) ela foi cultuada sob diversos nomes.
Em razão de ter sido vinculada à imagem de "a Rainha do Céu", a compassiva e onipotente, a ela foi atribuída a qualidade de “a Senhora intercessora entre os dois os mundos”. Como intercessora, Isis, que também era chamada Aset, atraiu para si uma grande multidão de devotos e sinceros adeptos.
Numa síntese mais concisa concernente à Isis, ela era considerada a grandiosa e benevolente Mãe dos deuses e dos homens, e a influência do seu amor infinito dominava a totalidade do céu, da Terra e a morada dos mortos.
Além disso, Ísis era personificada como sendo o grande e puro poder divino reprodutivo, o qual concebia seres viventes de forma imaculada, o que lhe rendeu mais tarde outra qualidade, a de “virgem”. Assim, na qualidade de virgem mãe, tudo o que Isis gerava, ela também protegia, cuidava, alimentava e nutria. Diziam que ela sacrificava a sua própria vida para gerar, cuidar e proteger os seus filhos.
Os egípcios atribuíram à Isis outra qualidade, a de “Regeneradora”, pois acreditavam que Isis, além de gerar a vida, ela regenerava aqueles filhos que já estavam mortos, ressuscitando-os. Assim, Isis era honrada, venerada e cultuada pelos egípcios como o arquétipo daquilo que há de mais elevado numa Mãe, Esposa e Filha.
É verossímil que estes sagrados mistérios sofreram profundas modificações. As cerimônias magníficas foram suprimidas, os ritos simplificados e a tradição primordial fragmentada.
Propriamente falando, os gregos jamais cultuaram Ísis em sua forma egípcia, mas o seu culto deu origem a novas formas de práticas religiosas de veneração à Grande Mãe.
Pode-se afirmar que os cultos Isíacos foram os inspiradores de numerosos cultos e de diversos agrupamentos secretos, destacando-se como os mais célebre “os Mistérios de Elêusis” que, com elementos completamente transformados, conservou a fórmula religiosa original em um ritual complexo, porém harmonioso. São esses Mistérios que guardavam os secretos ensinamentos de Orfeu.
Foi assim que os mistérios de Isis foram perpetuados nos impérios que se sucederam, encontrando na Grécia uma nova aparência.
Mantendo a mesma qualidade de Isis, as deusas gregas representavam a grande iniciadora da alma humana nos sublimes mistérios do espírito.
Isis passou a ser a geradora de espiritualidade na consciência de toda a humanidade, sendo a responsável pelo processo evolutivo da consciência do iniciado.
Como princípio feminino, ela passou a simbolizar mais que a maternidade, mas a rainha do reino sutil, senhora da terra, regente das essências das ervas e de todas as coisas sensíveis.
Isis na roupagem grega da psiquê, fornece a substância ao êxtase da intuição que com acúmulo de amor e verdade, torna possível a geração da consciência superior e imortal, a gnose, que é o conhecimento espiritual superior que acompanha o homem durante todas as suas reencarnações, fazendo-o abandonar sua animalidade original e se transforma no homem sábio, tolerante e virtuoso, qualificado como o iniciado.
Era o despertar da Gnose que Pitágoras ensinava em sua escola de Krotona. Mesmo que ainda estivessem muito presos aos ensinamentos do antigo Egito, os pitagóricos foram bastante laicos e o culto que os pitagóricos rendiam à Deus se limitava à prática do seu próprio aperfeiçoamento humano.
Numa visão universal, Isis é retratada numa mulher vestida de Sol e ela corresponde a matriz da consciência superior, que gera no mundo interior do homem as suas emoções mais excelsas. É Isis quem impulsiona a busca do iniciado pelo conhecimento espiritual e início da sua jornada no caminho de Deus (iniciação).
Na tradição cabalística judaica, Isis ou a Lua corresponde à alma do Grande Homem Cósmico (Adam Kadmon).
No planisfério esotérico cristão, a Lua converteu-se no Anjo Gabriel, enquanto no hermetismo a Lua representa os atributos formadores da Luz Astral (a luz do Sol corresponde a luz espiritual, que ao ser refletida ou filtrada pela Lua, ganha mais densidade e transmuta-se no fluido vital).
Em metafísica, a lua é o símbolo da essência que se cristaliza na matéria, cujo duplo caráter corresponde as suas forças puramente magnéticas, sendo o polo oposto das forças solares, que são elétricas.
Na maçonaria esotérica Isis é retratada na coluna da lua, refletindo a luz solar em forma de luz astral. É essa polaridade da loja que são cristalizadas suas energias astrais, as quais servem para fortalecer a nossa egrégora através da cadeia de união realizadas pelos irmãos.
CONCLUSÃO:
Talvez nenhum Deus ou Deusa tenha merecido ou recebido o culto e celebração de tantas pessoas pelo mundo antigo. É por isso que em sua aplicação prática, a Lua é a virgem celeste, mãe do mundo, o emblema da Anima-Mundi, a Chandra dos hindus, a Isis dos Egípcios, a Diana dos Gregos e outras deusas mais.
ISIS A GRANDE MÃE, DIVINA SOFHIA, A VIRGEM MARIA, MEDIADORA ENTRE O CELESTIAL E O TERRENO, AQUELA QUE TEM MUITOS NOMES, RAINHA DO CEU, AQUELA QUE AMOU OS DEUSES, E SE PREUCUPOU COM OS HOMENS.
Para encerar, cito Henri Durville em “A ciência secreta”:
“Quem fizer este caminho só e sem olhar para trás, será purificado pelo fogo, pela água e pelo ar; e se puder vencer o terror da morte, sairá do seio da terra, tornará a ver a luz e terá o direito de preparar a sua alma para a revelação dos mistérios da grande deusa Ísis." - (Henri Durville - A ciência secreta)
Ir.’. Jules Boucher – M.’.M.’.
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